Todo cuidado é pouco



O dia 8 de janeiro de 2023 ficará registrado como um dos mais tristes da história do Brasil. A destruição das sedes dos Três Poderes da República em Brasília por um grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) causou repulsa no mundo e obrigou autoridades a se mobilizarem em defesa dos valores democráticos.

Os atos de vandalismo seguidos de declarações de ódio e de pedidos de intervenção militar estão sendo tratados como terroristas e ameaças ao Estado Democrático de Direito.

No entanto, um olhar mais atento sobre a situação política mundial já demonstrava que há uma variação considerável sobre o que realmente pode ser considerado como regime democrático. 

De acordo com os critérios do Instituto V-Dem (Varieties of Democracy) apenas 13% da população mundial vive sob democracias liberais, em apenas 34 países. O regime mais comum no mundo, segundo a organização, é o das autocracias eleitorais, onde vivem 44% da população. Os dados constam da reportagem “Democracia: um regime sempre em construção assinada por Izabela Cruz do Nexo Jornal e publicada em 1/10/2022.

O levantamento ainda revela uma redução deste percentual ao longo dos anos, demonstrando a fragilidade das democracias e da compreensão das sociedades sobre importância dela na garantia de direitos.  

O que ocorreu no Brasil, a exemplo do ataque ao Capitólio nos Estados Unidos, aponta para o surgimento de um poder paralelo capaz de utilizar estratégias de mobilização de massas, notícias falsas e crenças religiosas para criar um ambiente propício a manipulação e à ativação do "sistema seita". O perigo só aumenta. Pessoas nessas condições não agem de forma racional e podem se tornar perigosas. Líderes tóxicos e com perfis autoritários se estabelecem nesses ambientes e utilizam esses grupos para concretizarem seus projetos de poder.

Na mesma reportagem Izabela detalha a evolução da democracia no Brasil e no mundo, identifica os princípios que caracterizam uma democracia e revela como o regime vem perdendo espaço para a autocratização. Ela afirma: "Eleitos regularmente eles (líderes autocráticos) passaram a adotar retóricas e práticas que, mesmo sem romper explicitamente com o regime democrático (sem o fechamento drásticos das instituições, por exemplo) minam constantemente a legitimidade das instituições democráticas, num processo de erosão gradual da democracia por dentro dela mesma." 

A apuração dos fatos ocorridos em Brasília assim como a aplicação das devidas penalidades são fundamentais para arrefecer os ânimos dos golpistas. Porém, a vigilância terá de continuar. 

A eleição de Bolsonaro em 2018 fez com que parte da sociedade brasileira se sentisse à vontade para expressar todos os tipos de preconceito. Armas foram livremente distribuídas. A possibilidade de termos organizados grupos paramilitares é uma realidade. E é necessário monitoramento sério e constante dos serviços de inteligência.

No âmbito da política, governantes precisam garantir que as políticas públicas atendam as demandas dos cidadãos e rompam com as desigualdades.

A democracia vive e sobrevive assim como aqueles que de forma oportunista buscam a sua desconstrução.

Todo cuidado é pouco.


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